segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Os sintomas de Myle #1

               Olá , meu nome é Myle, quer dizer, Emile, sim eu sei que você não me conhece, e que sou estranha também, tenho dezenove anos e um cabelo de sabugo.
               minha vida se baseia na rotina de toda garota de dezenove anos que trabalha durante o dia e estuda durante a noite, faz uns bicos na loja da mãe, vive com um livro enfiado na cara, e usa umas roupas comuns dessas de lojas de atacado.Não é muito comum na minha cidade ser normal, aqui as pessoas são diferentes, na pacata cidade de Retiro dos Ventos.

              Sinceramente, existem pessoas com as quais eu me relaciono bem, geralmente são pessoas bem diferentes de mim, mesmo porque não é tão difícil encontrar alguém diferente de mim, é.ontem eu estava na cafeteria,onde trabalho dois turnos, lugar maneiro, com um cheiro intoxicante resultante de um misto entre bolinhos, folhados, e capuccino, as paredes são de concreto bem pintadas de marrom com detalhes em laranja e vermelho, um lugar aconchegante que posso ler meus livros ou estudar nos intervalos dos pedidos, pra falar a verdade às vezes eu gostaria de morar lá, é maravilhoso, como estava contando...Ah, bem...tinha um casal, sentados na mesa 23, do canto esquerdo bem reservada, ao ver eles senti-me conectada mais do que instantaneamente como se conhecesse os dois, então, " plin",era a mesa deles.

               Chegando perto senti um cheiro comum, cigarro, ou sei lá qual é a substância que dá o cheiro do cigarro, vinha da moça certamente:

              -Bom dia, bem-vindos a Pão- de-céu, posso servi-los? - Disse tão rápido, quase sem sentir.

          Olá - disse a moça que bocejava nicotina - eu vou querer um Irlandês e um cookie, ok? - Anotei.

            -Eu vou querer um Árabe, e um sanduba de frango, valeu. - ele tinha um sotaque estranho e usava óculos de sombra como se estivesse de ressaca.

               -Trago em um minuto - Saí tão rápido quanto como falei.

                 Não sei por qual motivo, mas fiquei realmente curiosa sobre eles, então, sem pensar muito coloquei tudo na bandeja e levei até a mesa.

                -Com licença- fui abrindo espaço para descarregar a bandeja - Como são seus nomes? 

                -Como? - senti que a moça não era muito simpática.

                -É, Frederico e Rose, desculpe - disse ele.

               Anotei o nome na comanda e saí, tudo bem que não fosse um bom dia para ela mas não precisava ser rude.

               Sentei na beirada do balcão e abri meu livro, fingindo ler, mas fiquei olhando o movimento, mas hoje a " pãozinho"estava bem vazia na verdade, eu havia colocado revistas novas no suporte de revistas e balas no pote da freguesia e já eram nove da manhã e o pote estava cheio, ou seja, hoje seria fraco.tinha um garoto do fundamental sentado na mesa da varanda e cinco mesas ocupadas por moças que exploravam seus smartphones muito mais que rapidamente.

                 " Plin, Plin,Plin"

                As mesas 11, 15, e 23 chamaram,prontamente, atendi duas, e na terceira um aperto no peito, a moça estava chorando, não sabia como ou o que falar então me aproximei de Frederico:

                  -Pois não?

                 -Queremos a conta, sim? - a voz parecia engasgada.

              -Certamente - tirei o bloco do bolso do avental, que estava sujo de chantilly, e entreguei a nota.

              Dando-me uma nota de cinquenta reais, ele apenas disse " Pendure o troco como vale, sim?", acenando a cabeça em afirmação eu coloquei o dinheiro no bolso e olhei para Rose que por sua vez tinha um olhar desesperado por um abraço, quando ela percebeu que eu estava olhando grudou os olhos em meus cabelos e disse:

            -Se todas as coisas no mundo fossem felizes como o roxo do seu cabelo, eu não tomaria uísque no café da manhã.

                  Levantaram, e foram embora.


Nenhum comentário:

Postar um comentário