sábado, 3 de janeiro de 2015

Os sintomas de Myle #3


                Não sei bem como foi que aconteceu, mas foi questão de uma hora, Frederico vinha chegando sorridente falando ao telefone, sentou na mesa 23, eu ouvi o "plin" mais desesperador da minha vida, e então eu fui até ele, com um maço de papéis na mão, meu coração pulando como se fosse sair de mim, e uma tremedeira que eu não saberia explicar, e não sabia porque estava sentindo aquilo, mas saibam, meus sintomas nunca falham.

                -Frederico? - foi o máximo que consegui dizer

               - Olá! Que belo dia não? Poderia me trazer um doce capuccino, sim?

               -Sim - pensei que se eu buscasse o café primeiro a dor da notícia seria menor, caso não saibam toda dor é amenizada com um bom café, programei a máquina, pedi para que Tomas me ajudasse com o restante dos clientes, eles já sabiam que eu demoraria, peguei o café, e uma emoção me tomou conta do corpo.

               -Frederico, eu preciso lhe falar algumas palavras, pediram que eu lhe entregasse esses bilhetes, e te dissesse uma coisa também...

              -Ah, sim, que ótimo, é uma carta de Lisa, Oh! Lisa está grávida, que notícia maravilhosa. - ele parecia tão feliz que meus sintomas pareciam besteira e talvez tivessem falhado.

              -As palavras são: Lisa está esperando você na casa da mãe dela.

             -O que você disse? Ai não pode ser real, não agora! - Realmente não falham, e algo havia sido lido por ele, e esse algo era ruim o suficiente.

            -Eu preciso atender as mesas, que nada seja tão grande e insuportável que você não possa suportar. - sinceramente eu não sei porque eu disse isso mas o que importa é a intensão da frase.

            Frederico tomou seu capuccino, com os olhares vidrados em um dos exames médicos, eu daria qualquer coisa para saber o motivo do desespero dele, o por que ele não tinha saído imediatamente.

           Como todos os dia de trabalho, esse também chegou ao fim, peguei minha mochila e fui indo em direção à universidade, hoje teria uma aula da qual eu certamente gostaria, apesar que talvez eu não me concentrar totalmente,pois o olhar de Fred não sairia da minha memória.
           A aula passou rapidamente,e muito boa, foi uma das melhores, parei na escada da saída pra fumar um cigarro com meu querido Bruno, e uma moça do terceiro período que era amiga de Bruno, enquanto isso perto da lancheria vinha Rose, num caminhar apressado, como se procurasse um endereço,então me levantei e fui para a calçada, ela aparentando alívio chegou até mim e disse:

          - Um cigarro cairia bem agora, mas preciso te perguntar se você viu meu cunhado?

          -Me desculpe , mas se você fala de Fred, eu sinceramente não o vi desde quando saiu com uma cara de espanto do café.

         -Lisa esperou ele juntamente com a família o dia todo, então ela não esperou ele chegar porque realmente ele não chegaria, e nos contou, preciso falar com Fred, é urgente, você me ajuda a encontrar ele?

         Não entendi muito bem em qual momento eu me tornei um membro de confiança para Rose, mas ela aparentava confiar cegamente que eu tinha boas intensões e ajudaria sem causar problemas, apesar de tudo, eu realmente ajudaria, queria entrar nessa história.

          -Rose, tenha calma, onde Fred costuma ir quando fica apavorado?

         -Lisa havia dito que ele costuma sentar no banco do lado da igreja católica, onde ele fica roendo as unhas e completamente perdido em pensamentos.

         Era nossa única jogada, peguei Bruno pelo colarinho e pedi que fosse junto conosco, pois um homem do tamanho dele por mais pacífico que seja seria uma espécie de escudo.Então corremos até a praça, que não ficava muito longe, umas seis quadras de corrida e eu tinha em mente que morreria de infarte, porém do lado esquerdo da igreja estava um rapaz de casaco, apesar do calor que eu estava sentindo pode ser que estivesse frio,Rose correu mais rápido pegou o rosto de Fred com as duas mãos e acalentou no ombro, como uma mãe.

         -Rose, eu não sei o que fazer, como vou suportar? - ele estava literalmente em prantos,chorava como uma criança que levou uma tunda. -Tenho medo de não conseguir, eu não serei suficiente.

         -Fred... Ela vai precisar de você, ela te ama muito, muito mesmo, e você fez ela te amar, fez com que todos nós amássemos você, precisamos de você, todos nós. - eles se abraçaram em um choro tão intenso que eu me senti comovida.

         Fred enxugou as lágrimas e olhou para frente, ao me ver, como já desconfiava, ele perguntou:

         -Você leu? - parecia que realmente queria que eu tivesse algo para dizer.

         -Não Fred, eu não li, nenhum dos documentos, achei que não seria certo.

         -Você foi essencial nessa história, obrigada, mas eu sou um covarde. - sem reações me obriguei a dizer,

         - Um covarde não assume o erro Fred, você é apenas humano, e tem fraquezas.

         O olhar dos dois pararam sobre mim, me senti arrependida por ter falado, porém como em um sonho, Fred se levantou sorriu para mim, me abraçou e disse:

         - Venha Rose, vamos para sua casa, Lisa tem um grande presente, uma benção, e uma aprovação, dois presentes difíceis de aniversário, obrigada Myle, eu serei forte.

         Os dois foram embora abraçados, Bruno me pegou por inteira em seus braços e disse:

          -Vamos para casa sua psicóloga louca, e metida, você já salvou uma família hoje
        

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